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Como você pode ser um artista e não refletir os tempos? 

"O dever de um artista, no que me diz respeito, é refletir o momento. A escolha é deles – mas escolho refletir os momentos e as situações em que me encontro. Isso, para mim, é o meu dever. Como você pode ser um artista e não refletir os tempos?" (Nina Simone)



Uma coisa que sempre friso ao entrar nesse tema é: a música tem todo o direito de ser fútil, de servir apenas para entretenimento e passatempo. Mas ela também tem o poder de transformar - e é aqui que mora a verdadeira influência e capacidade de um artista.


Assim como no trecho que abriu esse post, Nina Simone, uma das maiores pianistas, compositoras e cantoras de jazz, blues e soul da história, fez de sua música a expressão da luta pelos direitos civis da população negra estadunidense. E não é à toa que sua obra permanece como símbolo de resistência para as novas gerações.


Foto: Jack Robinson / Hulton Archive
Foto: Jack Robinson / Hulton Archive

Mais recentemente, em 2021, Adele causou polêmica ao lançar o icônico álbum 30 e afirmar que "não faz música para o TikTok". Ela deixou claro que sua intenção era criar músicas para pessoas que compartilhassem experiências semelhantes às dela, não para um público de aplicativo.


E embora os propósitos de Nina Simone e Adele sejam BEM distintos, ambos compartilham algo fundamental: a música como forma de expressão, e não apenas como produto.


Mas, se artistas como Adele conseguem pensar e criar com base em experiências específicas, imagine o poder de quem usa a música como voz coletiva, instrumento de denúncia e resistência…


É o caso de gêneros como rap e funk, que nasceram como potentes agentes de transformação social. Quando esses gêneros passam a enfraquecer seu conteúdo, acabam enfraquecendo também a força dos movimentos sociais, especialmente nas periferias.


Quando um gênero musical vira apenas vitrine, ele também perde sua potência.


E se hoje todo mundo canta sobre coisas banais, quem permanece utilizando a voz como ferramenta de ativismo e transformação? 


Foto: Divulgação
Foto: Divulgação

Em maio deste ano, Negra Li, uma das maiores vozes do rap nacional, mostrou mais uma vez por que ocupa esse patamar artístico ao lançar o álbum “O Silêncio Que Grita”.


O disco é um exemplo claro do que já foi citado aqui: uma artista que une empoderamento feminino, questões raciais e políticas em beats, rimas afiadas e melodias capazes de transformar dor em arte, opressão em resistência e silêncio em grito.


E, assim como ela, poderia citar inúmeras outras rappers que estão salvando o hip hop e rimando sobre aquilo que o gênero sempre se propôs a ser: instrumento político de resistência, autoestima e identidade. Porque, cá entre nós, as rimas da maioria dos homens, hoje em dia, não passam de dinheiro, luxo e fama.


Foto: Divulgação
Foto: Divulgação

Ajuliacosta é outro exemplo desse nicho, tendo lançado recentemente um álbum (já comentado aqui, aliás) que exalta a potência e o empoderamento feminino. E aqui cabe, mais uma vez, o comentário: o poder transformador da música. É sobre colocar uma faixa dessas no fone e sentir que você pode mais, porque há alguém cantando e te encorajando a ser.


E, claro, há quem vá ainda mais longe. Porque, se lutar para manter a identidade de um gênero que sempre foi ativista já é difícil, imagine lutar para RESGATAR essa cultura? E você sabe de quem estou falando…


Foto: Divulgação
Foto: Divulgação

Beyoncé é uma das artistas que, há anos, batalha para recuperar a cultura negra tantas vezes embranquecida pela indústria musical. Aliás, caberia aqui um post inteiro dedicado aos seus feitos sociopolíticos e ativistas - mas isso fica para depois.


A grande questão é: existe fazer música e existe fazer música


Nem toda música é feita com o mesmo propósito ou profundidade. E é por isso que algumas comparações também não podem ser feitas. E você também sabe de quem eu estou falando.


Foto: Internet
Foto: Internet

Voltando para o Brasil, Elza Soares, uma das maiores vozes do país, sempre esteve à frente do seu tempo, abordando em sua obra temas como empoderamento feminino, antirracismo e resistência.


Foto: Divulgação
Foto: Divulgação

Ela enfrentou grandes batalhas na vida pessoal e artística, e esse ativismo também se manifestou em suas músicas, abrindo caminhos para as gerações seguintes de mulheres negras na música.


Talvez o ápice da carreira dela foi com o aclamado álbum "A mulher do fim do mundo" (2015). O sucesso desse trabalho não apenas reafirmou sua relevância, mas também abriu espaço para discussões mais profundas sobre questões sociais, políticas e raciais por meio da música.


As faixas desse álbum exploraram temáticas intensas, como a violência doméstica e a condição da mulher negra, contribuindo para uma narrativa mais ampla de resistência e empoderamento. 


Foto: Divulgação
Foto: Divulgação

E é exatamente sobre isso que falo. Apesar de ter enfrentado preconceitos e inúmeros desafios, a cantora do milênio transformou sua dor em arte e deixou um legado poderoso - porque Elza Soares refletiu seu tempo e fez música de verdade.


Quantos artistas você conhece que fazem música de verdade, que refletem o momento e usam suas vozes como instrumento transformador?







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